Agricultura Natural

A Agricultura Natural, iniciada e instituída na década de 30 pelo filósofo Mokiti Okada (1882 – 1955), é desenvolvida respeitando-se os princípios da Natureza, tomando-a como modelo e obedecendo-se às suas leis. A filosofia de Mokiti Okada preconiza que a Natureza, no seu estado original, é a Verdade, e deve, portanto, ser respeitada.

Conforme Mokiti Okada esclarece em diversos tratados, a humanidade, no curso do seu desenvolvimento veio gradualmente se afastando da Lei da Natureza, até promover o atual estágio de degradação do meio ambiente, em nível quase irreversível de destruição. Nesse contexto, situa-se a agricultura. O problema, acrescido do aumento populacional do planeta, dificilmente seria resolvido pela continuidade do método agrícola convencional. Já em 1935, Mokiti Okada afirmava: “O método agrícola que negligencia o poder do solo, as plantações e a Natureza prejudica não somente o solo, mas todo o ambiente de cultivo, criando uma nova crise na humanidade”. A filosofia de Mokiti Okada, que preconiza a identidade espírito e matéria, defende a tese de que o espírito é inerente,não somente aos seres humanos, mas aos animais, aos vegetais, enfim, a todos os seres. Sendo o solo o maior organismo vivo do planeta, é de se considerar a importância do respeito que a ele se deve ter para a preservação da vida humana, em níveis espirituais e materiais, razão por que a Agricultura Natural centra, nele, a base de seu trabalho. A proposta de Mokiti Okada para a nova agricultura não representa simplesmente o aperfeiçoamento de algumas técnicas atuais de cultivo. Trata-se de uma verdadeira “revolução agrícola”, considerando-se o pilar sobre o qual se desenvolve o seu pensamento. Segundo Mokiti Okada  “... Nada poderia existir no Universo sem os benefícios da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos básicos: o Fogo, a Água e a Terra. (...)”.                 

O poder fundamental do desenvolvimento das plantas corresponde ao elemento Terra; os elementos Água e Fogo têm um poder de atuação secundário. Conseqüentemente, dependendo da qualidade do próprio solo, tem-se o resultado bom ou ruim da planta, de modo que no caso do cultivo, a condição principal é melhorar, ao máximo, a qualidade do solo.                           

O atual excesso de alimentos contaminados por agrotóxicos lançados nas plantas e no solo tem resultado no aumento crescente de doenças, o que contribui para a elevação do índice de pobreza e de conflitos na vida humana. Isso requer uma responsabilidade consciente para a produção e o abastecimento de alimentos verdadeiros e sadios, indispensáveis para a criação de uma sociedade saudável, próspera e pacífica. Neste aspecto, verifica-se a ação altruísta que visa a sobrevivência da humanidade.

Hoje, sabemos que utilizando-se corretamente as forças e a energia da Natureza, é possível obtenção de uma produção suficiente, com colheitas abundantes, sadias, saborosas e nutritivas, sem a necessidade do uso de fertilizantes químicos ou biocidas, como atesta o crescimento de árvores e ervas, nos campos e matas, sem o ataque de insetos que as prejudiquem.

Assim, através de criteriosas pesquisas, a Agricultura Natural visa restabelecer o estado natural de produção de alimentos e é desenvolvida seguindo-se um sistema técnico capaz de alcançar os objetivos do método, que são:    

I.Produzir alimentos que incrementem cada vez mais a saúde do homem.

II.Ser econômica e espiritualmente vantajosa, tanto para o produtor como para o consumidor.

III.Poder ser praticada por qualquer pessoa e, além disso, ter caráter permanente.

IV.Respeitar a Natureza e conservá-la.

V.Garantir alimentação para toda humanidade, independente de seu crescimento demográfico.

O principio básico da Agricultura Natural é manifestar o poder do solo (vitalidade, capacidade, propriedade e funcionalidade). Obviamente, o poder fundamental do desenvolvimento das plantas é do elemento solo;  o do elemento água e  elemento fogo são poder de atuação secundária. Conseqüentemente, dependendo da qualidade do próprio solo, tem–se o resultado bom  ou mau da planta, de modo que no caso do cultivo, a condição principal é melhorar ao máximo a qualidade do solo. Vamos comprovar que realmente os seres vivos são constituídos de “Fogo, Água e Terra”, dando o exemplo de um punhado de folhas caídas, elas estavam vivas na natureza, e  ficaram completamente secas. O fato de terem ficado secas significa que o elemento água acabou, e ficaram somente os elementos fogo e solo, se atearmos fogo nesses folhas, queimando-as por completo, significa que acabou o elemento fogo. 

Depois desse processo ficou somente a cinza, que nada mais é do que o elemento solo, pois a cinza retorna ao mesmo.

Seguindo esse exemplo temos ainda a seguinte pergunta: Para onde terá ido o elemento fogo? Em química, a queimada é a reação pelo oxigênio, ou seja pelo principio da Agricultura Natural o elemento fogo atua e se transforma em espírito. Seguindo o exemplo acima comprova-se através de fatos que o principio da Agricultura Natural jamais está afastada de fatos.                   

 De acordo com o principio da Agricultura Natural, a base é fazer o solo emanar toda sua força. Observamos a fertilidade do solo das matas e dos campos naturais. Há um acúmulo de resíduos vegetais, tal como folhas, ramos, troncos de árvores e capim seco, os quais se transformaram em morada de organismos que os decompõem. Estes organismos gostam de sombra, do calor, da umidade e da porosidade do solo enriquecido por resíduos vegetais. Segundo as estatísticas citadas no livro “Nogyo To Dojo Seibutsu” escrito por Iwao Watanabe, estudioso de agricultura no Japão, em 1 m2 de solo de campo natural existem umas 360 (trezentas e sessenta) espécies de organismos maiores, como: anelídeos de mais de 2 cm  de comprimentos e centopéias; 2.030.000 (dois milhões e trinta mil espécies de tamanho médio, como parasitas, insetos voadores e minhocas e 1.000.000.000 (um bilhão) de microorganismos, como fungos e bactérias. Se no solo fértil existe um número infinito de organismos como os mencionados, isto quer dizer que eles exercem ai um trabalho efetivo. A minhoca por exemplo, é considerada como uma excelente produtora de solo fecundos, pois alimentando-se de resíduos vegetais e de terra, excreta em composto rico em matérias orgânicas.

Os elementos não digeridos dessa excreção servem, por sua vez, de alimentos para os organismos menores. Dessa maneira as minhocas modificam o estado do solo, aumentando a sua porosidade e contribuindo assim para uma melhor aeração e umidade. Estima-se que a quantidade de terra preparada anualmente por esses anelídeos, em 100 m2, oscile entre 38 e 55 toneladas. Baseado nesses fatos vemos a necessidade de desenvolver uma técnica capaz de tornar o solo cada vez mais produtivo como um operário experiente. Se o solo for mantido puro e se ele puder manifestar toda sua energia vital, não surgindo doenças nem pragas, poderemos alcançar uma agricultura que respeite a natureza.Para compreender melhor a Agricultura Natural, surge agora a questão de se definir a palavra “Natureza”.

Existem definições que incluem desde a visão que considera natural tudo aquilo que não sofreu interferência humana, até casos que admitem todos os fenômenos relacionados com a troca de energia solar centralizados na terra e que ocorrem na litosfera, na hidrosfera e na atmosfera. Há ainda, casos que incluem o Universo além do nosso planeta. Do ponto de vista da agricultura, o elemento primordial consiste na manutenção da vida humana mediante a utilização de matéria viva da Natureza. 

 Devemos dizer que dentro das técnicas agrícolas praticadas atualmente é extremamente difícil obter uma agricultura que:

1.   Seja economicamente  viável sem uso de fertilizantes e agrotóxicos;

2.   Prescinda da aração;

3.   Torne o solo uma massa de fertilizantes;

4.   Possibilite a repetição de cultura.

 A técnica agrícola atual é dirigida predominantemente pela tendência para o tratamento sintomático, formando conseqüentemente, um sistema que invariavelmente necessite de fertilizantes de defensivos químicos. O maior erro reside no fato desse sistema ser fundamentado na química inorgânica e ignorar os aspectos orgânicos e os fenômenos vitais do solo.

Como resultado das pesquisas, ficou esclarecido que as características do solo variam enormemente conforme os microorganismos contidos nele. Baseado nessas pesquisas temos a seguinte classificação:

 1.   Solo do tipo putrefado (solo patogênico favorável ao surgimento de pragas e doenças);

2.   Solo do tipo  bactérias purificadoras (solo supressor de doenças e pragas);

3.   Solo do tipo fermentador;

4.   Solo do tipo sintetizador. 

 Cada ser está vivendo da cooperação de outros seres. As definições a seguir ilustram o pensamento de personagens ilustres que já viram que preservar o solo é resposta correta.

 1.   O solo é a diferença entre a vida e a morte

2.O solo é a pele viva da Terra. Ele conecta o mundo acima e abaixo da terra, mantendo o delicado balanço entre os seres vivos. Ele sustenta a vida do planeta. Assim preservando o solo mantemos a nossa vida e o planeta terra. 3.A nação que destrói o solo destrói a si mesmo.

(Franklin Delano Roosevelt)

4. O fazendeiro é  dono do título da  propriedade, mas em realidade ele pertence a todas as pessoas,porque a civilização na sua totalidade sobrevive do solo

(Thomas Jefferson) 

 Tecnicamente a Agricultura Natural é definida como um sistema de exploração agrícola que se baseia no emprego de tecnologias alternativas, as quais buscam tirar o máximo proveito da natureza, das ações do solo, dos seres vivos, da energia solar, de recursos hídricos. As técnicas da Agricultura  Natural fundamentam-se no método natural de formação do solo, com interferência humana em concordância às leis da natureza.

Na Agricultura Natural, com a força da natureza e todos os conhecimentos técnicos e científicos disponíveis ao longo da evolução humana, o homem interfere diretamente no processo, restabelecendo rapidamente o solo produtivo, ainda mesmo durante a fase de exploração agrícola. Isso evita que o trabalho de conversão seja antieconômico.

Na Agricultura Natural são feitas recomendações como o uso de   composto, cobertura morta, adubação verde, e outros recursos naturais, microorganismos do solo, controle biológico de pragas, controle biomecânico de plantas daninhas. A Agricultura Natural recorre aos conhecimentos mais avançados da ciência, em todas as áreas, selecionando habilmente os conhecimentos científicos de acordo com a filosofia deixada por Mokiti Okada. Na prática, recorremos ao principio da reciclagem de recursos naturais e enriquecimento da matéria orgânica e microorganismos do solo para tornar a exploração agrícola duradoura e racional.   

No Brasil, o consumo de produtos orgânicos ainda é incipiente. Mas esse quadro muda rapidamente, pois se constata um crescimento anual da ordem de 10% ao ano desde de 1990, atingindo um crescimento anual em 1998 de 24%. Isto significa que estamos nos deparando com uma tendência de mudança de hábito alimentar do brasileiro.

A agricultura orgânica tem um potencial de crescimento que não pode ser menosprezado.

 

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